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O Beijo Gay que Salvou o The Sims de ser Cancelado

Se não fosse por um beijo gay, provavelmente você não estaria jogando The Sims hoje.

O Jornal The New Yorker publicou um artigo há alguns anos atrás falando sobre o incrível caso do beijo gay que salvou o The Sims de ser cancelado pela EA antes mesmo de ser lançado em fevereiro do ano 2000. O SimsTime traduziu o artigo completamente para que você possa entender esta história maravilhosa.

O Beijo Gay que Salvou o The Sims de Ser Cancelado

O que aconteceu na E3 de 1999 (maior feira de jogos eletrônicos do mundo) realizada em Los Angeles, foi um caso tipicamente luxuoso, mas obsceno. Nela, por três dias, milhares de desenvolvedores de jogos se reuniram para exibir seus próximos lançamentos e estimular potenciais compradores em um  grande circo de marketing. Naquele ano, a EA tinha um estande gigantesco para apresentar seus novos jogos, mas longe de toda a ação e burburinho do seu palco principal, a EA havia preparado uma área humilde e escondida para anunciar o The Sims, um ambicioso projeto de simulação social que quase ninguém acreditava, exceto seus desenvolvedores.

Para a EA, o The Sims, que na época o projeto mais recente de Will Wright, criador do SimCity, era apenas um projeto herdado, quando a empresa comprou o estúdio da Maxis. O jogo estava em desenvolvimento desde 1993, quando Will Wright teve a ideia de criar um jogo de construção de casas que mais tarde se tornaria um simulador de vidas que modelaria o comportamento humano.

“Todos sabíamos que, se não gerássemos interesse das pessoas pelo The Sims na E3 de 1999, o jogo seria definitivamente cancelado” Patrick J. Barrett III

O jogo nem foi exibido na tela grande com os trailers dos outros jogos”. Mas, em poucas horas, um beijo não planejado entre dois personagens do mesmo sexo fez o The Sims ser o jogo mais falado daquele evento e se tornar o centro das atenções.”Todos sabíamos que, se não gerássemos interesse das pessoas pelo The Sims na E3 de 1999, o jogo definitivamente seria cancelado”, disse Patrick J. Barrett III, um dos programadores do jogo. “A EA não fez nada para nos ajudar. Eles nos esconderam durante a E3. Mas recriar os damas mundanos de sala de estar em forma de jogo provou ser um grande desafio: o desenvolvimento do projeto The Sims quase foi abandonado várias vezes.

Durante o longo período de desenvolvimento do The Sims, a equipe discutiu se deveria permitir relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo no jogo. Se esse jogo de pessoas digitais modelasse com precisão todos os aspectos da vida humana, do trabalhado à diversão até chegar ao amor, era natural que isso facilitasse os relacionamentos gays. Mas também existia o medo de como esse recurso pudesse afetar adversamente o jogo. “Nenhum outro jogo havia facilitado relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo antes – pelo menos nessa medida – e algumas pessoas pensaram que talvez não fôssemos ideais para sermos os primeiros a iniciar esse tipo de coisa, pois esse era um jogo que a EA realmente não queria fazer” disse Barrett. “Me parecia medo.” Após vários meses, a equipe do The Sims finalmente decidiu deixar as relações entre pessoas do mesmo sexo fora do código do jogo.

Quando Barrett entrou para a equipe do The Sims, em outubro de 1998, ele não tinha conhecimento da decisão. Após duas semanas em seu novo trabalho, ele não tinha nada para fazer, e seu supervisor, o programador líder do jogo, Jamie Doornbos, havia tirado férias. Jim mackras, o chefe de Barrett, precisava de uma tarefa para ocupar o seu novo funcionário, e entregou a Barrett um documento que descrevia como as interações sociais no jogo funcionariam; as regras subjacentes à Inteligência Artificial do jogo que ditam como os personagem interagiam dinamicamente entre si. “Ele não achava que eu iria conseguir lidar com a tarefa uma vez que Jamie estava de férias, mas ele imaginou que eu pelo menos teria uma coisa a menos para se preocupar”, disse Barrett. “Nem Jim e nem eu percebemos que ele havia me dado um documento de design antigo para trabalhar.”

Esse documento de design antecedeu a decisão de excluir as relações homossexuais no jogo. Suas páginas descreviam uma rede de interações sociais, na qual todo tipo de relacionamento romântico era permitido. Naquela semana, Barrett confundiu as expectativas de seu chefe incrédulo. Ele escreveu com sucesso o código básico para interações sociais, incluindo relações entre pessoas do mesmo sexo. “Fazendo uma retrospectiva, eu deveria ter questionado esse recurso”, disse Barrett, que é gay. “Mas fazer com que o código do jogo permitisse relações entre pessoas do mesmo sexo me parecia algo tão certo, então eu apenas o implementei. mais tarde, Will Wright parou na minha mesa – disse Barrett. “Ele me disse que gostava das interações sociais e que estava feliz por ver que o apoio ao mesmo sexo estava de volta ao jogo.” Ninguém na equipe questionou o trabalho de Barrettt. “Eles praticamente o ignoraram”, disse ele. “Depois de um tempo, todo mundo já estava acostumado com a funcionalidade.

No início de 1999, antes da EA ter a chance de matar o jogo, Barrett foi convidado para criar uma demo do The Sims para que fosse mostrada na E3. A demo era composta por três cenas do jogo. Elas eram chamadas de cenas “pré-prontas”, o que significa que o jogo não estaria simulando em tempo real, tudo era pré-programado, então tudo aconteceria no jogo da mesma maneira toda vez que fosse jogado, para mostrar da melhor maneira possível tudo o que o jogo poderia oferecer. “Eu tive que correr contra o tempo antes da E3, e haviam tantos Sims participando de uma cena de casamento que não tive tempo de pré-programar todos eles”, disse Barrett.

No primeiro dia do evento da E2, os produtores do jogo, Kana Ryan e Chris Trottier, ficaram incrédulos quando duas Sims do sexo feminino presentes no casamento virtual se inclinaram e começaram a se beijar apaixonadamente. Durante a simulação ao vivo, elas se apaixonaram. Além disso, elas escolheram aquele momento para expressar sua afeição, diante de uma planeia ao vivo com a imprensa inteira observando. Após o beijo, não se falava em outra coisa a E3. “Você pode dizer que o The Sims roubou o evento inteiro”, disse Barrett. “Eu acho que os caras heterossexuais que fazem os jogos de esportes amaram a ideia de controlar duas lésbicas.”

O Beijo Gay que Salvou o The Sims de Ser Cancelado
Imagem por Mia Animations
Após o sucesso da exibição do The Sims na E3, o futuro do jogo parecia seguro. Mas Barrett e seus colegas de equipe tinham um novo problema a resolver: como decidir a orientação sexual de Sims individualmente. “Se você criasse uma casa com dois Sims do mesmo sexo, eles sempre se tornariam gays apenas pelo fato de estarem mais próximos um do outro”, lembrou Barrett. “Foi quando eu criei o sistema que determinava a sexualidade de um Sim por meio de ações comandadas pelos jogadores”.

No jogo, os jogadores seriam capazes de interagir com os Sims de formas diferentes, inspirando-ps a tomarem um banho, comer, sair e fazer outras ações. “Certas interações sociais foram marcadas como românticas”, disse Barrett. “O jogo controlava se elas eram realizadas por Sims do mesmo sexo ou do sexo oposto. A fórmula era um pouco mais complicada, mas, com o tempo, quando um Sim desenvolvia um relacionamento, sua preferência era estabelecida. “Se o jogador fosse cuidadoso, um Sim poderia até se tornar bissexual. ” O sistema funcionou tão bem que o apoio ao mesmo sexo era invisível e contínuo. É raro que algo funcione exatamente como você deseja. Muitas das minhas outras simulações no jogo desmoronaram. Esta funcionou perfeitamente. Depois que a equipe viu isso em ação, eles decidiram que poderia manter o apoio ao mesmo sexo, e o assunto não voltou à tona.”

A decisão ostensivamente controversa foi, de certo modo, protegida por maiores preocupações com o projeto. ” A EA estava mais preocupada com o fato do The Sims fracassar e prejudicar a franquia SimCity”, disse Barrett. “Era também uma época diferente; as pessoas não eram tão ativas a favor ou contra relações entre pessoas do mesmo sexo. Elas não se esforçavam para encontrá-las ou reagir a elas. A imprensa de direita não tinha a plataforma que tem hoje para gritar. Não havia Twitter, nem Facebook nem blogs. Eu meio que esperava que as pessoas viessem à noite com forquilhas e tochas. Mas isso nunca aconteceu.

De fato, Barrett acredita que o mundo mudou profundamente desde quando o The Sims 1 foi lançado. “Na época, não era considerado ‘normal’ ser homossexual ou lésbica”, disse ele. Alguns até viram isso como perigoso. Mas no The Sims era normal e seguro ser gay. Foi a primeira vez que jogamos um jogo e ficamos livres para nos ver representados por dentro. Foi um momento mágico quando meus primeiros Sims do mesmo sexo se beijaram. Às vezes ainda me pergunto como é que me saí com isso.”

Artigo escrito por Simon Parkin, do The New Yorker

Fonte
The New Yorker

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