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A Obscura História da Trilha Sonora do The Sims

Conheça um pouco a história da trilha sonora do The Sims.

Leia agora um artigo super interessante que fala um pouco sobre a história da trilha sonora do The Sims e o seu desenvolvimento.

As músicas do Modo Construção do jogo apresentaram milhões de jovens ao jazz e new age. Mas os compositores apenas queriam algo sutil que não atrapalhasse o jogo de “casa de bonecas” digital.

A Obscura História da Trilha Sonora do The Sims

Texto assinado pelo Noisey Us com tradução em versão local por Vice Brasil.

Em um estúdio caseiro em uma garagem de um subúrbio ao leste de São Francisco, em algum momento de 1999, Jerry Martin começou a criar a música mais imperceptível que podia. Como diretor de áudio da empresa desenvolvedora de videogames Maxis, ele já havia feito jogos de simulação como SimCity 3000 e SimCopter. Mas The Sims, o projeto mais recente que recebeu do visionário diretor de jogos Will Wright, seria diferente. The Sims incluiria o senso de infinitude que existe ao se construir uma cidade, mas não a mesma grandeza; exigiria a paciência necessária para voar sobre uma cidade, mas não a mesma ação. Muito do tempo seria gasto erguendo paredes, encontrando o papel de parede certo e organizando móveis. O jogo não falava sobre nada em particular e a música precisava refletir isso.

“A música tinha que ser muito relaxante e contemplativa”, Martin diz ao telefone, falando de sua nova casa, nas montanhas no centro da Califórnia. “Você está sentado, de bobeira, construindo sua casa — e pode passar horas fazendo a mesma atividade. Não é uma questão de acumular alguma coisa.”

Dezoito anos depois do lançamento original, a série The Sims é uma instituição. As quatro partes do jogo (e os incontáveis pacotes de expansão que se seguiram) foram traduzidas para 22 idiomas e venderam cerca de 200 milhões de cópias pelo mundo. Conforme o jogo cresceu, a música tornou-se mais polida. My Chemical Romance, Flo Rida e Kelly Rowland estão entre os artistas que regravaram canções na singular língua do jogo, simlish, para The Sims 3; a trilha sonora para The Sims 4, lançado em 2014, foi composta pelo altamente conceituado compositor neoclássico britânico Ilan Eshkeri.

Mas uma parte da trilha sonora do Sims original manteve um poder único. A música para o Modo Construção do jogo, composta por Martin com Marc Russo, saxofonista dos Doobie Brothers, e o pianista de jazz John R. Burr, era formada por peças instrumentais, new age e de piano solo. As seis músicas fluíam pelos fones de ouvido enquanto você pausava o tempo para criar um projeto de paisagismo ambicioso ou encontrava o telhado perfeito. Por uma época no começo dos anos 2000, milhões de jovens ouviam jazz impressionista, semi-improvisado, sem nem mesmo saber.



Até hoje, é provável que seja uma das coletâneas de músicas mais ouvidas lançadas neste século. Foi divulgado pelo BusinessWire que, em 2005, o The Sims 1 vendeu 16 milhões de cópias em todo o mundo. Em 2000, ano em que o jogo chegou às lojas, apenas quatro discos com músicas originais ultrapassaram esse número: Hybrid Theory, do Linkin Park; Oops!… I Did It Again, de Britney Spears; The Marshall Mathers LP, de Eminem, e Black & Blue, dos Backstreet Boys. É difícil mensurar o verdadeiro alcance do álbum — a divulgação comercial e no rádio significam que esses álbuns tiveram um impacto que foi além do número de vendas. Mas Kid A, do Radiohead, que saiu no mesmo ano e há muito é considerado um álbum seminal, vendeu cerca de 1,5 milhão de cópias até hoje, não chegando a um décimo do que The Sims atingiu. Não seria difícil dizer que mais pessoas ouviram o jazz minimalista de Jerry Martin do que os uivos contidos de Thom Yorke em “Everything In Its Right Place”.

Entretanto, na época, pouca gente achava que o jogo ia pegar, apesar do sucesso mundial recente da série SimCity. Jeff Braun, cofundador da Maxis, disse que a diretoria da empresa teve medo da ideia de Wright. “Os diretores olharam para The Sims e disseram: ‘O que é isso? Ele quer fazer uma casa de bonecas interativa? Esse sujeito pirou’”, Braun lembrou-se, em uma entrevista para a revista New Yorker em 2006. Ele diz que a atmosfera na Maxis era amplamente positiva, enquanto a EA, muito mais interessada em jogos de esporte e de ação, não sabia o que fazer com um conceito tão estranho quanto um simulador de vida.

De qualquer forma, o projeto foi em frente. Martin tinha liberdade para fazer o que quisesse. Wright dava sugestões ocasionais, mas normalmente eram para as estações de rádio que os jogadores podiam ouvir quando seus Sims estavam em casa, dançando ou relaxando. O Modo Construção (e o Modo Compra, cuja trilha sonora era bem mais animada) ficou a cargo da imaginação de Martin.

Com as estações de rádio devorando todas as suas ideias específicas para um gênero — música clássica e canções country e bossa nova estariam presentes na versão final do jogo —, Martin decidiu trabalhar com um jazz melancólico, de gênero neutro. Ele chamou Marc Russo, que, em uma situação que não seria estranha em The Sims, morava do outro lado da rua, para contribuir em algumas músicas do projeto.



Russo conta que o processo se tornou “vigoroso”. Martin lhe passava algumas orientações — mais vibrações e emoções do que pontos de referência musicais tangíveis — e o saxofonista devolvia ao vizinho peças para piano combinadas cuidadosamente. Ele atravessava a rua para chegar ao estúdio, gravava orgulhosamente take após take no teclado e então percebia que Martin só tinha interesse em alguns poucos compassos. “Cara, eu escrevia uma música ótima e ele gostava de quatro compassos bem no meio”, lembra. “Mas deu certo. Aquilo me fazia pensar e fazer coisas que normalmente eu não faria.”

O maior desafio era o próprio conceito. Após sair em turnê com os Doobie Brothers e tocar com o grupo de jazz The Yellowjackets, vencedor do Grammy, Russo achava difícil fazer músicas propositalmente comedidas. “Tentávamos criar uma música que fosse interessante, mas não o suficiente para distrair durante o jogo”, ele conta. “No meu mundo, ser saxofonista e tocar jazz, R&B, ou seja lá o que for, significa causar impacto, criar um clima e mergulhar de cabeça.”

E, ao contrário de Martin, que podia ver o jogo brevemente durante o desenvolvimento e jogou versões iniciais com erros, Russo não tinha noção do que aconteceria na tela enquanto sua música tocava. “Você criava uma paleta sem vê-la, na verdade, partindo de uma emoção ou estado de espírito passado por outra pessoa, e seguia adiante a partir daí”, ele diz. Era complicado definir com clareza tais emoções ou estados de espírito. Baseando-se nas sugestões de Martin, Russo achava que o produto final deveria ser simples, inocente e otimista.

Quando Russo e Martin não capturavam bem esse desejo, chamavam John R. Burr. Pianista bem-sucedido por mérito e conhecido musicista de apoio, ele estava confortável em trabalhar as ideias de Martin — e, ao contrário de Russo, é pianista profissional, não saxofonista. Burr afirma que adorava o estilo de gravação “copia-e-cola” usado por Martin. Ele afirma que era o caso de “olhar para Jerry e perguntar: ‘É isso que você quer?’”. Enquanto Russo ia além e compunha peças que depois eram cortadas por Martin, Burr ficava feliz por improvisar. Apesar de não ser listado como compositor em The Sims Soundtrack, compilação de 16 faixas lançada em 2007, o piano de Burr está em quase todas as músicas do Modo Construção.

Estranhamente, Burr é o único que se lembra da inspiração para as composições. Ele diz que sempre admirou o pianista clássico e de jazz Keith Jarrett, cujo trabalho compartilha uma beleza triste com a trilha que Burr escreveu para The Sims. George Winston, que faz músicas entre o folk e o impressionismo suave, também estava na mente do pianista na época. “Por falta de termo melhor, era uma sensibilidade new age, ao estilo Windham Hill”, conta.

É bom que ele se lembre de tudo isso, pois Martin ainda não sabe o que dizer aos fãs que perguntam quais os passos a seguir após fazerem uma maratona de músicas do Modo Construção no YouTube. “Muita gente me pergunta: ‘Onde eu posso achar esse tipo de música?’. Eu não sei! A gente gostava desses estilos. Foi uma boa combinação do que escrevi com o improviso [de Burr].”

Os três dizem que fazem ideia do quanto as músicas discretas foram longe, embora Burr não tenha compreendido imediatamente. Ele afirma que visitou um sobrinho adolescente logo depois do lançamento do jogo e mencionou que tocou em algumas das músicas para a trilha sonora. “Achei que [a Maxis] era uma empresa pitoresca de videogames local, que era uma grande coincidência. Daí meu sobrinho disse: ‘Esse é o maior jogo que existe no mundo’. Para mim, na época, aquilo era novidade.”

Russo trabalhou para a Maxis por um ano antes de voltar aos Doobie Brothers, mas nunca teve a chance de jogar The Sims. Até hoje, Martin permanece como o único dos três que chegou a efetivamente jogar o game e diz até que nunca teve tempo para entendê-lo de verdade. Em vez disso, ele fala com Burr sobre escrever uma sequência para a música do Modo Construção, completamente independente de The Sims, da Maxis e da EA — e procura a melhor forma de lançar o projeto por meio de financiamento coletivo. Por enquanto, ele subiu as faixas originais para seu site e as músicas podem ser baixadas gratuitamente.

Para os milhões de pessoas que cresceram absorvendo as composições de modo semiconsciente, separá-las da nostalgia que geram é impossível. The Sims pode ser agora, como escreveu recentemente Lauren Larson, da revista GQ, um jeito de meditar melhor do que a própria meditação — um mundo simples, de detalhes e com menos desejos a realizar.

Mas no começo dos anos 2000, se você ainda era tão jovem que não sabia o que era cinismo, podia vislumbrar um futuro que não era necessariamente impossível. Quem sabe você pudesse mesmo ser bombeiro, um astro do rock ou uma supermodelo. Talvez pudesse digitar um cheat code e ganhar US$ 1 milhão. Ou talvez não seja tão difícil construir uma mansão de três andares com uma piscina interna, algumas banheiras de hidromassagem e três telões de TV. Talvez a tristeza seja causada pela fome, fome se resolve comendo cereal, o cereal sempre está na cozinha e isso é tudo.

Apesar de não terem jogado The Sims, os musicistas que escreveram a trilha sonora desse mundo estavam tentando capturar um pouco dessa alegre ingenuidade. Russo lembra-se de trabalhar especificamente em uma das músicas do Modo Construção — a quarta faixa, que acabou recebendo o título de “If You Really See Euridice”, uma referência obscura à mitologia grega (Russo diz que não teve nada a ver com isso). Ela ainda hoje o deixa espantado. “Essa é muito bonita. Quando eu a ouço, penso: ‘Meu Deus, eu criei isso. Que beleza!’.”

Russo diz que esboçou com Martin algumas ideias antes de ele sair e os dois trabalharam com toda convicção. “Me lembro de uma peça em especial que deveria representar esperança e um mundo melhor para o futuro”, explica, antes de lançar um conceito que ele só poderia resumir em um teclado. “A gente lançava algumas frases de efeito: esperança, sonho, com uma pitada de tristeza porque você está crescendo e deixando para trás algo de que gosta muito, e também está olhando para frente, para um lugar onde você espera se sentir repleto de alegria e admiração.”

Matéria criada por Alex Robert Ross – Twitter e traduzida por Sarah Oliveira.


O que vocês acharam da história da trilha sonora do The Sims? Certamente muito curiosa e divertida, não?

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Fonte
Vice Brasil

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